Foram dois dias e madrugada, vá, memoráveis.
Nem o fantasma do Superbock Superock impediu que o Coliseu dos Recreios transbordasse de suor juvenil, com os Bloc Party, nem a tremenda e inexplicável falta de organização obrigou a que muito boa gente saísse do recinto da Bela Vista para ir jantar ao doce lar visto que, dentro do recinto, matar o bicho da fome só com o geladinho inflacionado, no muito ecléctico Creamfields Lisboa.
Bloc Party-16.05-Coliseu dos Recreios
Não há muito que se diga da hora e meia em que os Bloc Party actuaram. Atiladinhos, desfilaram as suas (excelentes) músicas entusiasmados pelos gritos histéricos da nata alfacinha que entoava "beautiful", sem se perceber muito bem se era só a musica que os levava a idolatrar em demasia os novos senhores do Rock ou se tinham a ajuda de estupefacientes supostamente ilegais.
Para concluir, um aplauso para a coragem, ou talvez desespero por afecto, de Kele que se atirou aos embevecidos adolescentes, que não se limitaram a apalpar e beijar ao que parece. Adiante e por azelhisse minha e de quem me acompanhava, perdi a actuação dos d30 que, segundo quem viu, não ficaram na sombra dos protagonistas.
Creamfields Lisboa - 19.05 - Parque da Bela Vista
Com pouco mais de 12 horas passadas da Pionners, encontrávamo-nos despejados no Relógio sem saber muito bem para onde nos virar. Entretanto, e graças à nossa boa pinta, fomos abordados por alguém que, azelha ou provinciano como nós, não dava com o raio do Parque da Bela Vista onde, das 15.00 do dia 19 até as 07.00 do dia seguinte, se ia passar o Creamfields Lisboa 2007. Só uma pequena nota para a fila de quilometro e meio do lado norte da entrada, contrastando com a desertificação da entrada do lado sul, isto às 16 e pouco. Há quem lhe chame burrice, mas acho que me vou ficar pela falta de organização por parte da promotora. Aliás esse “pequeno” pormenor acabou por marcar este festival, assombrando prestações brilhantes de uns quaisquer The Vicious Five ou Soulwax.

Mas nem tudo é mau. É de louvar o facto de ter-se dado mais importância à música em si do que a qualquer outro tipo de entretenimento, o que foi muito criticado. Alias, quando se fala de festival de música, pensa-se logo numa pista de neve artificial. Enfim, é sempre um bom sinal ter-se que fazer contas de matemática para poder assistir a toda a panóplia de artistas que por diferentes palcos andavam, por exemplo, escolher entre Who Made Who que deram asas ao publico, e acreditem leitor e meio, falo por experiência própria, e Placebo que ao que parece tiveram que sair a meio devido à falta de óleo da garganta de Molko.

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No entanto e se não houve outras formas de entretenimento que rivalizassem com a música, a (falta de) comida substituiu essa "falha" na perfeição, obrigando os mais de 35.000 espectadores a impor esta pergunta a eles próprios e às suas esfomeadas barrigas: "Então, vamos ver os Wraygunn ou esperar 5 horas na fila para comer pizza extra inflacionada porque as bestas da organização se esqueceram que 5 barracas de merda não conseguem alimentar 35.000 pessoas?" Seria muito patriótico referir a incompetência portuguesa neste tipo de coisas.
E então, no meio de roncos estomacais, lá se assistiu aos fabulosos Wraygunn que, pelo menos para mim, assinaram a melhor prestação do dia. E por Raquel Ralha e Selma Uamusse arrebatarem os olhares de gula da já esfomeada audiência masculina e inveja da parte feminina, Paulo Furtado não se coibiu de tentar chamar atenção através duma aventura pela plateia, revelando que tem tendência a dar-se melhor com estranhos, nem se quer teve medo de mostrar o seu desagrado por estar a levar com batidas techno no rabo, tentando destruir o mais possível o equipamento que, de preferência, não fosse dele, mas que se fosse também ia. No fim, bem perguntou se alguém conhecia Kinks, mas a grande quantidade de sub-21's não apanhou muito bem a "You Really Got Me”.

Mas pelo Palco Soulwax passaram também os Digitalism, que ninguém percebeu muito bem o porque de actuarem às 5 da tarde, os Spektrum, que chegaram bem para qualquer uma das bandas que actuaram no Main Stage, os Poppers que prestaram a devida homenagem aos Who com a cover de My Generation e, finalmente os Soulwax, que pediram emprestado aos Daft Punk e Tiga, para por a plateia recém chegada do Main Stage a dançar.

De resto, sublinho o espaço silencioso, onde podíamos por uns headphones todos giros e ouvir o confronto entre dois DJ’s mundialmente conhecidos ou não, o palco Coca Cola Zero, dedicado ao Reggae, o Bacardi Club, o tal que produzia as batidas techno que incomodavam o Tigerman, La Isla, que sinceramente não me despoletou grande interesse, um espaço sempre a abarrotar com uma piscina no meio onde, ai sim, um DJ internacional ultrafamoso e conceituado punha as pessoas a dançar, e todos os outros espaços de franchising, merchandising, e todo um conjunto de palavras terminadas em “ising”.
Resumindo, congratulo todo e qualquer leitor que tenha tido bolinhas de aço para ler todo este testamento e exprimo a minha solidariedade a todas as mui dignas pessoas que estiveram 7 horas à espera numa fila de dois quilómetros para entrar no Ola Love2dance.
Em 2009 há mais, espera-se.